um hábito que adotei antes de começar a escrita de um texto em que as ideias ainda estão meio fragmentadas é preparar um drink. então, só pra você saber, os próximos parágrafos vão ter gosto de bacardi big apple.
na busca por arquivos que estavam salvos em um computador antigo, eu dei de cara com uma pasta de 2020 intitulada “desculpa incomodar”. fiquei um pouco chocada, pois eu comecei a desculpa incomodar que você está lendo agora só em 2022 — mas aí me veio: o substack teve um boom na pandemia e, com a experiência de já ter mantido duas newsletters, ambas enviadas pelo mailchimp, eu devo ter pensado hum porque não?
o que me impediu de lançar a desculpa incomodar na época foi a insegurança que vem junto de colocar algo pessoal no mundo. e não é que ela passou quando eu finalmente publiquei o projeto, eu só parei de dar tantos ouvidos para o que ela me dizia. só que o caminho que o substack está tomando, enquanto plataforma de publicação de textos, me faz ficar autoconsciente demais e novamente insegura quanto ao que eu publico.
eu recebi um email essa semana dizendo que agora eu tenho um nome de usuário, um arroba, no substack. como assim, eu pensei, já existe a página do projeto. cliquei e encontrei um perfil de rede social — meu, não da newsletter — com direito a botão de convidar amigos e foto redondinha.
a principal aba do perfil se chama posts, onde ficam os textos que você publica, co-publica ou dá restack — o equivalente ao reblog do tumblr. aqui, uma avalanche de pensamentos começou a pipocar, entre eles: os textos que eu publico foram reduzidos a posts num feed? quanto tempo até começar a mostrar quantos inscritos a pessoa tem? até haver posts patrocinados que serão impulsionados pela plataforma? será que eu deveria parar de ser tão pessoal e escrever sobre outros temas? esse é o futuro da newsletter?
quando o desejo de explorar a escrita e a auto-publicação surgiram, o medium estava em alta e o tumblr ainda era uma opção, assim como — pensando em ferramentas gratuitas — fazer um blog no wordpress, no wix ou no sobrevivente blogspot ao lado da Neide Rigo. mesmo assim, desde o começo, eu escolhi publicar meus textos via email. tinha algo no querer estar ali do leitor-assinante e na possibilidade de saber para quem eu estava escrevendo, que amenizava a ansiedade e me deixava menos insegura em publicar na internet.
por outro lado, quando entrei em contato com o substack, o que me chamou atenção foi a possibilidade de acessar o conteúdo da newsletter antes de assiná-la. não havia essa opção nas outras plataformas de disparo de email: você divulgava uma promessa de conteúdo e torcia para que as pessoas confiassem nisso. escritores que publicavam nessas outras plataformas também eram um ponto fora da curva, uma vez que permaneciam sempre no plano gratuito. esse episódio do podcast guia prático (27 min.) aborda o tema numa conversa bem legal com a aline valek, portanto não vou explorar mais esse tópico no momento.
pode soar um pouco contraditório, por isso vou explicar: eu acho interessante que haja uma página onde se possa ler os textos publicados antes de assinar uma newsletter, mas essa página não deveria ser o foco da coisa, apenas uma ferramenta útil. uma vez que ela é o foco, você tem um blog, não uma newsletter, e no caso do substack, você tem uma rede social.
eu corro o risco de parecer ingrata com todas as pessoas que leem, interagem ou assinam o meu conteúdo, principalmente as que chegam até mim por recomendações algorítmicas. no entanto, o substack agora opera justamente na lógica do algoritmo e da recomendação, como todas as big techs. é o plano, claro, manter o usuário na plataforma o máximo de tempo possível. o problema não é esse. o que me incomoda é como o substack virou sinônimo de newsletter, enquanto, na prática, caminha para um lugar completamente antagônico. eu só queria uma boa plataforma que enviasse os meus textos por email, sabe, não mais uma rede social — que, na era da recomendação, se torna só mais um feed controlado por algoritmos.
e não é só sobre o substack. a impressão é que a internet foi privatizada, restando poucos espaços na rede que são construídos e mantidos pelos usuários. e é muito difícil competir com as grandes empresas, pois elas oferecem facilidade e gratuidade pedindo apenas os seus dados e a sua privacidade em troca.
por fim, eu só consigo pensar que os tópicos abordados aqui dão muito pano pra manga. com a PL 2630 e as pessoas começando a questionar o monopólio das big techs gringas, estamos num processo de transição do uso da internet. está sendo uma experiência interessante e assustadora produzir em meio a tudo isso, e a vontade, que é também uma nostalgia, por uma outra internet, mais simples e menos startupeira, bate cada vez mais forte.
você que lê ou posta aqui no substack, o que tem achado das mudanças?
luana
o drink que me acompanhou na escrita desse texto é assim (dose para 1 pessoa): num copo grande, amassa 1 limão com açúcar a gosto como se fosse iniciar uma caipirinha; adiciona gelo, 1 dose de bacardi big apple e 1+1/2 dose de gim. mistura, serve no copo de sua preferência e voilà.
uma reflexão incrível de meu amigo felipe moreno sobre espirro e classe.
nesse texto, eu tracei um paralelo entre o meu bairro atual, ribeirão da ilha, e o bairro da minha vó, ribeirão pequeno, onde eu costumava passar os verões na minha infância. pois bem: eu descobri que o primeiro bairro onde morei se chamava ribeirão das pedras! fiquei impressionada com a coincidência, mas o mais legal foi descobrir algo sobre a minha própria vida que eu ainda não sabia.
o episódio cidade das marcas, do podcast prato cheio.
reencontrei um gif que fiz em 2018 em que mostro como fazer uma sacola de lixo com jornal — pra quando as sacolas de plástico acabam uma vez que você sempre leva a ecobag para o mercado.
aiii chegou no ponto certo... tudo menos uma nova rede social hahaha
eu escrevo aqui (com menos frequência que gostaria) e consumo muuuitas newsletters e confesso que nem estou acompanhando as mudanças do substack pois sigo usando-o da mesma maneira, lendo o que recebo por email, rssss.
neeem abro os emails do substack então talvez seja também uma tentativa de não querer mais uma rede social ou outra função que tenha aqui, que funciona até eu ser "obrigada" a interagir de outra forma, vou procurar saber mais sobre pra ter uma opinião de fato, obrigada.
obs: bacardi big apple acessa minhas memórias de 2010 e acredito que essa tenha sido o melhor presente do seu texto - embora eu lembre com enjoo dessa fase da juventude rssss.