tudo começou quando meu psicólogo falou que a motivação é produzida. acontece muitas vezes comigo: até entendo um conceito na teoria, mas botar em prática é outra história. esse segundo só acontece quando há um clique, uma chave que vira, uma ficha que cai, e, no meu caso, esses estímulos geralmente partem da palavra. quando meu psicólogo falou que a motivação se produz, eu finalmente entendi que não adianta esperar por ela, eu tenho que ir atrás dela. aí eu fui.
eu queria muito ter mais hobbies e inserir atividades manuais na minha vida de novo. ouvindo esse podcast, percebi que o medo de ser ruim me faz desistir de aprender coisas novas. parece que eu tenho que ser boa, do contrário não há porque fazer. só que esse modo de pensar exclui por completo o processo das coisas, foca só no final — em um final específico, no caso, que é ser boa. reconheci que eu tinha poucos hobbies porque sempre voltava pra atividades que eu já sabia fazer, não corria riscos, não abria espaço para o novo. entrei no modo crise por umas semanas, normal, mas depois tomei uma decisão: eu ia aprender uma atividade nova e o foco ia ser apenas não desistir. comecei, então, a fazer crochê (decisão número um).
ainda quero escrever um texto sobre tudo que o crochê me ensina para além da atividade em si, mas, em resumo, minha vida tomou outro rumo a partir dele. eu passei a ter um novo hobbie, que é uma atividade manual, que coloca objetos no mundo, coisas que eu posso criar & vestir, e ainda dá a oportunidade de me conectar com várias mulheres da minha vida que também fazem crochê. fui na casa de tia nida e ela me deu fios de malha & várias agulhas que eram da minha madrinha, crocheteira, que faleceu há três anos, e me senti herdando objetos valiosos de uma pessoa importante que a pandemia tirou de mim. passei a ter um assunto a mais com marília, amiga das manualidades, e fui responsável por reviver o crochê na vida de mariah. (a barrinha da saúde mental aumentou consideravelmente só com esse parágrafo.)
outro movimento recente que mudou completamente a minha vida, e não estou sendo dramática quando digo isso, foi remover o trabalho do meu whastapp pessoal (decisão número dois). pelo valor de um chip novo, um aparelho de celular velho e o tempo de configurar um whastapp business, eu me sinto bem menos ansiosa, pois removi os principais gatilhos causadores da ansiedade do meu dia a dia.
eu já fui diagnosticava com tag (transtorno de ansiedade generalizada) e medicada com rivotril & antidepressivo algumas vezes. quando penso nos meus momentos mais desafiadores em relação à ansiedade & à depressão, hoje identifico que eu tinha todos os motivos pra me sentir daquele jeito: a vida estava estrondosamente difícil com o trabalho neoliberal precarizado, uma pandemia global, um pai com câncer, o colapso climático, a crise econômica, o excesso de informação e desinformação, o bolsonarismo, etc etc etc. não acho que somos ansiosos ou depressivos, estamos assim porque vivemos num mundo que nos deixa doentes. ter um whatsapp profissional separado do pessoal não muda as estruturas adoecedoras em que estamos inseridos, mas melhorou a minha qualidade de vida e me sinto mais apta a ir atrás de formas de transformar alguma coisa nesse mundo colonial-capitalístico, pra citar suely rolnik. recomendo!!!!!!!
por último, um movimento recente que causou grande impacto na minha vida foi colocar as amizades no mesmo nível de importância que trabalho, família & relações românticas (decisão número três). ano passado me senti muito sozinha e sei que eu era só mais uma pessoa solitária no meio da epidemia de solidão que enfrentamos. morar longe da maioria dos meus amigos & ter uma predisposição à vida doméstica cumpriram seus papéis nessa equação, claro, mas, no geral, eu era uma estatística.
pra mudar isso, eu comecei ativamente a abrir espaço na minha vida para as amizades. comecei a fazer mais & melhores convites, passei a arranjar menos desculpas pra não ir, me aproximei de quem está perto pra ter amizades geograficamente próximas (o que me trouxe um grupo de amigos mais heterogêneo e encontrei um pote de outro & infinitas reflexões nesse movimento), aprofundei amizades que eram mais rasas, comecei a responder com mais intenção na internet e ser mais clara na minha comunicação: oi, quero você na minha vida. um trabalho ainda em andamento são os rituais — encontros com amigos que tem uma certa frequência e um senso de compromisso a mais — que eu estou trabalhando pra manter. é trabalhoso, eu chego a ficar fisicamente exausta, pois, morando longe, estar mais próxima das amizades demanda bastante deslocamento, mas vale a pena!
quando eu canso, descanso: a predisposição que tenho de ficar em casa vem acompanhada de uma facilidade em me entreter sozinha — ainda mais agora, na companhia do crochê — e isso pode ser uma maldição & uma benção, depende do contexto. encontrar esse equilíbrio é o meu objetivo. movimento, descanso, movimento, descanso, movimento, descanso…
em resumo, tenho me esforçado para tirar o trabalho do centro da minha vida, sair mais de casa, criar novos vínculos, fortalecer os já existentes e me divertir mais, brincar mais. tem sido uma jornada gostosa.
bom carnaval!
luana
nota da escritora
eu escrevo direto no substack, confesso. se um dia o substack acabar, vou perder uma quantidade bem grande de rascunhos de textos que nunca vão ver a luz do sol. eu tenho esse problema, confio nas plataformas em nome da conveniência e do armazenamento gratuito. pago de outras formas. tenho fé, porém, que vou sair do substack e migrar de plataforma antes dele acabar. a frequência bimestral de textos que eu envio aqui tem a ver, em primeiro lugar, com o fato de que não consigo terminar nada que começo a escrever (culpo o retorno de saturno), mas também porque tenho cada vez menos vontade de usar essa plataforma: o substack cooptou a última coisa boa da internet, o email, e o transformou em mais uma rede social que fatura com publicações nazistas, entre outras coisas. uma pena.
Muito bom!!