anedota 1: minha prima Isabela sempre me lembra de um hábito que tenho desde criança: digo “já venho” e sumo completamente. pois é, olá, quanto tempo, desculpa a demora.
anedota 2: lembro de quando a jout jout parou de produzir vídeos no canal dela. na foto de capa estava escrito algo relacionado ao retorno de saturno. hoje entendo.
anedota 3: conheci uma mulher esses dias. ela nasceu em 3 de janeiro de 1963 e quero muito ser amiga dela. passamos uma tarde inteira conversando e, em certo momento, falei que estou passando por uma crise profissional. ela perguntou, quantos anos você tem? eu disse, 28. ela disse, propício.
eu parei de fazer análise. a pausa foi compulsória (estou sem grana) e, inicialmente, não pareceu adequado, mas hoje, ao sol, num café superfaturado na região central da cidade, eu percebi que esse hiato pode me fazer bem. a análise é uma ótima ferramenta e eu amo ser analisada, mas não posso negar que era um mergulho, guiado & pago, nas profundezas da minha mente. ainda acho que é importante fazer esses mergulhos, mas, ultimamente, parecia que eu estava vivendo embaixo d’água. o que eu preciso agora, urgentemente, é sair: de casa, da minha cabeça, da inércia.
estou há mais de mês sem mandar texto nenhum, mas, juro, eu escrevo toda semana. começar texto novo não é o problema, o problema é terminar. justo eu, amiga do fim. mas, apesar do impulso de começar não ser o problema, é um problema. eu penso demais & pensar me paralisa.
os pensamentos paralisantes são geralmente catastróficos, mas não só. às vezes — e talvez seja o meu ascendente em áries — eu fico muito animada com uma ideia, grande ou pequena, mas pára aí: não consigo me movimentar de maneira concreta na direção do que gostaria de fazer, pois temo que não vai ser tão legal bonito incrível maravilhoso perfeito como eu pensei. os pensamentos catastróficos são tão debilitantes quanto: visualizo como uma situação pode ser & acredito cegamente nessa versão, caindo na mesma inércia.
dado os fatos, vou contar a que conclusões cheguei.
pensamento-mantra
ter centenas de pensamentos por segundo acontece antes que eu perceba. quando me dou conta, puff! já visualizei trinta cenários diferentes onde a maioria termina em ferimentos graves, tédio ou morte. & o que eu vou chamar aqui de pensamentos-mantra já fazem parte do meu escopo mental, mas geralmente incluem frases como “eu não consigo”.
a primeira conclusão, então, é que se eu não consigo parar os pensamentos, vou usá-los ao meu favor: seleciono frases (tolas mesmo, nada que demande pensar mais) que repito como um mantra quando acho que preciso delas. as mais comuns têm sido “para se mexer precisa se mexer” ou “esteja aberta”. me sinto uma coach barata de mim mesma, mas tem funcionado.
não acredite em tudo que pensa
nos poucos meses em que fiz terapia cognitivo-comportamental, eu observei e analisei meus pensamentos intrusos de perto (tinha uma tabela de excel e tudo). na época, eu precisava resolver um problema específico: a ansiedade, causada pelos pensamentos excessivos e acelerados, me impedia de sair de casa. eu não segui com a tcc, mas as ferramentas da abordagem e o acompanhamento da psicóloga me ajudaram muito. os pensamentos intrusos que me mostravam desmaiando na rua, me machucando, pedindo ajuda e não recebendo, ou recebendo ajuda e sendo infectada pelo coronavírus, eram só pensamentos, não eram a Realidade. fui melhorando & voltei a sair de casa sozinha quando entendi que não preciso acreditar em tudo que penso.
com o tempo, encontrei duas saídas quando percebo que estou assim, espiralando: a primeira é visualizar um “zoom out” de onde eu estou, como se eu saísse da primeira pessoa e assistisse a cena de fora, e repassar mentalmente o que está acontecendo. só que, às vezes, os sentimentos são tão intensos que eu não consigo migrar da primeira pessoa, então a saída é aceitar & lembrar de não dar tanto crédito para o que estou falando ou pensando naquele momento: quando a ansiedade passar, eu vou enxergar com mais clareza.
mudar os ares
quando eu estou mal, E. sempre diz: toma um banho gelado. eu raramente faço, mas não nego o poder que isso tem: é um choque positivo, um estresse controlado que te tira de qualquer situação, mental ou física, e te coloca em outra estranhamente boa. minha mãe sempre falava pra eu dar uma caminhada, “mudar os ares”, e esse tem sido o mais benéfico pra mim: mexer as pernas, olhar outras paisagens, interagir com seres humanos de carne e osso.
pagar pra ver
esse é uma soma dos últimos dois tópicos. quando me convidam pra sair ou quando decido ir por mim mesma, costumo visualizar como as coisas vão se desenrolar. só que tudo que envolve o Outro é impossível de prever mesmo que eu acredite nisso via pensamentos impostores. ultimamente, quando eu percebo a tendência em deixar de fazer algo porque acho que vai ser chato estressante constrangedor difícil, eu paro & repito: paga pra ver. até agora, me surpreendi positivamente todas as vezes.
aos poucos, bem aos poucos mesmo, sinto que estou voltando a gerenciar melhor a ansiedade, coisa que não acontecia desde antes da pandemia. o que segue me afetando é a paralisia perante as coisas que eu quero fazer. o medo da realidade não ser tão boa quanto a fantasia. quando tenho uma ideia e fico animada, começo anotando as centenas de ideias que surgem e a sensação é de estou me movimentando em direção àquela vontade, mas, se fica por isso mesmo, eu só estou colocando meus pensamentos em outro formato — escrito, em lista. no fundo eu sei que as coisas que mais tenho orgulho de ter feito são aquelas que eu não pensei muito em como fazer.
cansei de pensar, vou terminar o texto, mas deixo uma música que me inspira pra você ouvir, caso tenha mais 3 minutinhos. :)
(acorda a hora de sair
se aproximar
e como vai ser
não da pra saber
mas temos de tentar
crescer
eu só quero fazer
eu não quero pensar)
abraços e volto logo,
luana