eu tive um sonho: estava na psiquiatra e pedi uma receita de rivotril. ela disse “eu não vou te dar rivotril porque a solução dos seus problemas é exercício físico”. acordei assustada.
pra contar essa história de amor, entre rivo e eu, que terminou de forma dramática, eu preciso voltar pra janeiro de 2021. já contei um pouco sobre isso nesse texto. na época, eu tive uma série de crises que me levaram até o postinho de saúde, onde fui atendida por um clínico geral que mal olhou na minha cara e, em 10 minutos, eu tinha uma receita de rivotril para “momentos de crise” e um antidepressivo de uso recorrente.
com o rivotril em mãos, eu fui cautelosa. tinha pavor de me tornar dependente daquele frasquinho. no início, eu realmente só tomava quando estava me sentindo muito ansiosa antes de dormir; quando meu coração batia descontroladamente rápido. entretanto, ao longo de 20 meses, o que começou com 2 gotas por mês se transformou em 2 gotas por dia, depois 5 gotas de 3 a 5 dias na semana. meu psiquiatra falou que, nessas quantidades, meu uso não era considerado dependência, mas eu vi a progressividade acontecendo.
eu estava tomando rivo frequentemente por dois motivos: 1) eu estava trabalhando demais e queria garantir uma boa noite de sono para acordar bem e com energia para trabalhar ainda mais no dia seguinte; 2) tinha dias que eu estava me sentindo tão exausta e/ou triste que eu tinha sede da sensação que o rivotril trás: em poucos minutos, você não sente mais nada. & era delicioso.
há poucas semanas, eu fui ao psiquiatra. era uma consulta de rotina, precisava pegar a receita do antidepressivo, etc, mas eu só tinha um objetivo em mente: conseguir uma nova receita de rivotril, uma vez que aquele frasco que consegui em janeiro do ano passado estava, finalmente, terminando.
lembra do sonho que mencionei no início do texto? ele praticamente aconteceu. o psiquiatra não me negou uma receita, mas questionou e trouxe várias críticas ao medicamento. eu colapsei: comecei a chorar e pedir desculpas por estar chorando, me senti feliz, afinal, eu não queria ser dependente de rivotril, mas depois fiquei triste porque queria tanto uma ferramenta que termina com todos os sentimentos ruins num piscar de olhos.
pouco antes de terminarmos, ele, afinal, me entregou uma receita: comprimidos, dose baixa, pra momentos de crise. jura, né? quem aqui já teve rivo em casa e usou sem acompanhamento e pra qualquer outra coisa, exceto crises? meu dedo está levantado. no consultório, me recompus e disse: olha, na verdade, eu não quero uma receita de rivotril. eu sabia que, se eu tivesse acesso aos comprimidos, eu tomaria para outros fins. meu psiquiatra olhou pra mim com certo orgulho e não posso dizer que não gostei disso.
mas eu ainda tinha um restinho daquele lá, o primeiro frasco. pedi pro meu namorado jogá-lo fora pra mim e ele disse “não, essa responsabilidade é sua”. merda. levantei, fui até o quarto e encontrei o rivo onde sempre o deixava: embaixo do travesseiro. fui até o banheiro e, sem pensar duas vezes, despejei todo o resto na pia. aquele cheiro floral de rivotril preencheu o cômodo e eu pensei que, talvez, terminar as coisas no ralo da pia não tenha sido muito inteligente, considerando que o sistema de saneamento da minha casa termina numa bacia de evapotranspiração: espero que as bananeiras fiquem bem. mas eu precisava do drama. depois do não que meu namorado me deu, que doeu tanto quanto um tapa na cara, eu percebi que a responsabilidade era mesmo minha; era eu quem tinha que ver aquele líquido descer ralo abaixo.
e assim termina minha relação com rivo. espero que não passemos por um remember.
sobre a parte do sonho, puro suco do meu inconsciente, em que a solução dos meus problemas é fazer exercício físico, bem, esse assunto fica pra outro dia, assim como a yoguinha que eu disse que ia fazer hoje.
ai, ai, até a próxima.
luana