depois de publicar textos por 10 semanas consecutivas, trabalhar com escrita há alguns anos, manter diários há quase uma década e trocar cartas desde sempre, acho que finalmente criei coragem de dizer que sou escritora. não deixo de me achar prepotente ao dizer isso, mas tem coisa mais de escritor do que escrever sobre escrever?
de todo modo, aprendi algumas coisas nesse processo. compartilho-as abaixo, em palavras.
1. publicar não valida a minha escrita.
quando comecei a publicar através da desculpa incomodar, estabeleci um compromisso de fazer isso toda semana. para isso, claro, eu precisava escrever. entretanto, os textos que eu coloco na internet representam quase metade de tudo que eu escrevo — e eu ainda acho essa uma porcentagem bem alta.
eu gosto muito de colocar palavras no mundo, seja para 89 pessoas lerem ou só pra praticar a construção de orações. manter isso em mente é um exercício pessoal e cotidiano: publicar é um impulso para escrever, não o que valida a minha escrita.
2. alguns textos ainda não estão prontos.
eu encontrei na escrita uma ferramenta de conhecimento pessoal. ao escrever, eu consigo organizar o que parece disperso e confuso no plano mental. e, desde que passei a publicar, tenho utilizado bastante essa ferramenta: cada experiência, sessão de análise ou conversa com uma amiga pode se transformar num texto. só que foi insistindo em encontrar uma resolução para questões pessoais através da escrita que eu descobri que alguns textos ainda não estão prontos e o melhor que eu tenho a fazer é deixá-los ir.
3. não apague.
entretanto, não apague nada. na contramão do desapego do tópico anterior, apegue-se a tudo que você escreve como elemento individual. uma frase ou um parágrafo podem não encaixar no texto de hoje, mas podem ser a faísca de algo melhor na semana que vem. não deixe as ideias fugirem. disclaimer: já fui uma apagadorazinha.
4. a escrita é consequência da vida.
consideremos texto = reflexo da vida. quando eu não consigo terminar um texto, percebo que a questão sobre a qual estou escrevendo precisa ser mais trabalhada. curiosamente, é escrevendo que eu chego à conclusão que ainda estou sem conclusão.
o melhor a fazer nesse contexto é dar uma caminhada, cozinhar, chorar, lavar o cabelo, encontrar um amigo, pegar sol, ir pra terapia, pro bar, pra uma festa de família. escreva em seguida.
5. você não encontra o fim, você decide terminar.
uns anos atrás eu fiz o curso escrever sem medo da jana viscardi. nas aulas, desconstruímos a ideia de texto para quebrar crenças & expectativas e criar mais confiança na escrita. de tudo que estudamos, algumas coisas me marcaram bastante. a) escrever é reescrever; e b) você não vai conseguir colocar tudo em um texto. isso me levou a concluir que o escritor não encontra o fim, mas decide terminar. escrever é um exercício de tomada de decisão.
6. não se apegue à norma culta.
a linguagem se estabelece quando eu consigo me comunicar com o outro e ser compreendida — & vice-versa. isso não tem a ver, obrigatoriamente, com o uso da norma culta de uma língua, mas com o contexto em que as partes estão inseridas.
acredito que a escrita escolar focada no vestibular e a escrita acadêmica criaram uma rigidez na ideia do que é um texto, especialmente um bom texto, que faz muitas pessoas acharem que não sabem escrever. e limitar o poder de escrita, de comunicação!, de uma pessoa é tirar dela um espaço para manifestar sua voz. carolina maria de jesus sabia bem.
7. esqueça os gêneros literários.
certa vez, eu encuquei que queria escrever ensaios. todo o meu processo de escrita, na época, passou a girar em torno da mesma pergunta: será que isso aqui é um ensaio? eu ficava tão insegura de estar fugindo da proposta estabelecida que eu simplesmente parava de escrever.
por conta disso, e da escrita para vestibular, achei que não era boa com as palavras. acreditava que meu lance era visual. entretanto, quando passei a ver o texto como um elemento gráfico, um espaço para experimentação visual — que tem bem mais a ver com o meu processo de criação do que com estruturas pré-estabelecidas —, eu passei a ter um pouco mais segurança no exercício da escrita.
a dúvida, porém, permanece. honestamente, algum estudante de letras sabe me dizer que tipo de texto eu escrevo?
8. conte a verdade, invente os detalhes.
este é um tópico autoexplicativo. escrevo com sinceridade, não existe razão para mentiras aqui. mas algumas coisas, claro, eu preciso inventar pra deixar as coisas mais interessantes; pra apimentar a nossa relação de escritor/leitor.
9. a vulnerabilidade conecta.
construir espaços de compartilhamento é muito importante pra mim. eu os encontrei na terapia e mantendo diários, mas estes são espaços privados. quando eu passei a ter conversas sensíveis com amigos e, também, a escrever aqui, nessa proposta de compartilhar reflexões pessoais, eu me coloquei num lugar de extrema vulnerabilidade. mas, sinceramente, não tem coisa melhor do que ouvir alguém dizer que foi impactada por um texto meu. isso me leva ao último & mais importante tópico:
10. publique com insegurança.
até hoje eu não sei o uso correto de “este” e “esse”, ainda pesquiso como usar os porquês e acho que coloco muitas vírgulas nas orações. sou extremamente insegura sobre as minhas opiniões e quase sempre acho que estou me expondo demais.
toda vez que pressiono o botão de publicar, eu sinto medo. será que as pessoas vão me criticar? bom, provavelmente. & pior: a maioria nem vai fazer um comentário sobre isso. a crítica é incontrolável, percebi que só tenho poder sobre o que eu escrevo; poder que some das minhas mãos quando publico. quando o coloco no mundo, o texto já não é mais meu.
ainda assim, nada disso me impede de escrever e continuar publicando. eu sinto uma vontade quase visceral de tirar as coisas de mim e fazer elas serem outra coisa, serem de outra pessoa. é assim desde o fotolog, onde eu contava meu dia a dia na legenda de uma foto tirada com uma kodak de pilha de 8 megapixel.
ou seja: quando eu passei a mostrar o que eu faço e como penso pro mundo, as pessoas passaram a lembrar de mim & oportunidades foram surgindo. acho que é o famoso botar a cara do sol.
✱
ai, ai, falei demais hoje. até semana que vem!
luana