planner, agenda, cronograma, chame como quiser. como uma grande entusiasta de listas, fiquei bastante triste quando percebi que nem tudo pode ser simplesmente categorizado, selecionado, priorizado, resolvido e marcado como concluído. mas foram muitas experimentações com diversos tipos de agenda — e sessões de terapia — que me levaram a essa conclusão, relativamente recente.
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quando passei a ser uma profissional autônoma, eu busquei ativamente um método pra organizar minhas demandas. só que algo deu muito errado e eu passei a organizar a minha vida a partir do planner, não o planner a partir da minha vida. quer dizer, eu gostaria de trabalhar 8 horas, fazer exercício físico, cozinhar, meditar e ler todo os dias, mas eu dava conta disso? a luana que fazia o planejamento da semana acreditava que sim, a luana do dia a dia sabia que não.
minha primeira tentativa de agenda foi um bullet journal. a ideia sempre me atraiu: organização manual, foco na escrita e totalmente personalizável. você constrói o bullet journal de acordo com as suas demandas, uau! como uma autônoma júnior & inocente, fui fazer o meu. só que construir um bullet journal personalizável leva tempo e não me pareceu algo simples de adaptar depois de feito. precisava de algo prático.
simplifiquei tudo e fui pras listas. manuais, sempre. escrever me ajuda a memorizar e poucas coisas são tão deliciosas quantos riscar uma tarefa concluída. passei a listar tudo. meus planners diário e semanal eram repletos de tarefas de trabalho e todas as outras coisas que eu gostaria de fazer em um dia, mas, no fim, eu sempre deixava de fazer alguma coisa e sentia que tinha falhado. mas com o quê? com quem? com meu chefe? não tinha mais. comigo mesma? com a produtividade infinita? essa última, com certeza.
eu costumava montar meus planners num caderno. certo dia, ao folheá-lo, tudo que eu vi foram listas de riscos pretos. eu riscava os itens com tanto vigor que não era possível ler o que estava originalmente escrito. foi assim que eu percebi que eu fazia todas aquelas listas focando no fim das tarefas, não na necessidade real de organizar as demandas do dia. percebi que a dificuldade que eu encontrava em lidar com a minha agenda era reflexo de uma relação tóxica com meus processos e, juntamente, com meu trabalho. eu não era feliz com o contexto em que trabalhava, com minhas relações no espaço corporativo e com as cobranças excessivas que eu colocava sobre mim mesma, especialmente com o que eu queria conseguir fazer pra além do trabalho.
depois disso, fiz um detox de planners. só que aquela sensação de organizar no plano físico o que parecia bagunçado dentro de mim voltou em algum momento. então, peguei uma folha a3, desenhei uma tabela com os dias úteis da semana e comprei alguns post-its. restringi meu planejamento a trabalho. business, business, business. mas depois de um tempo, me pareceu contra intuitivo comprar tanto papelzinho e depois jogá-los fora.
eu não acredito que a digitalização seja a solução para produzir menos lixo. eu sei, mesmo não entendendo direito como, que tudo que eu crio na tela do meu computador ou celular é armazenado em algum lugar e isso demanda uma estrutura que também é física. mas, de qualquer modo, depois de jogar dinheiro e papel colorido no lixo, decidi digitalizar minha agenda.
contra a minha vontade, eu criei um trello. eu odeio o trello. mas, na época, era o que eu conhecia e achava legal a função de mover as tarefas concluídas pra outra aba. dava aquela sensação de conclusão que, até hoje, eu busco.
por sorte, eu fui apresentada a uma ferramenta melhor em pouco tempo (obrigada, luiza) e eu queria muito que esse conteúdo fosse #patrocinado, mas não é. hoje eu uso o notion. e, de certa maneira, ele é meio que um bullet journal: totalmente personalizável, mas tem templates também, o que facilita muita coisa. e ele não corrige início de frase com letra maiúscula, o que torna tudo visualmente agradável e ainda mantém uma unidade com o resto da minha estética online (o que é muito importante pra mim apesar de ser ultra superficial). e dá pra adicionar emojis com facilidade. win/win/win/win.
porém, pra além de encontrar uma ferramenta que funciona, o mais importante foi focar nos meus processos, não no fim das tarefas. eu listo pra não esquecer, pra saber quais tarefas priorizar, pra ter uma sensação de que as coisas estão sob controle e não me desesperar. mas nada disso realmente ajuda se o foco não for o fazer. & às vezes eu tenho coisas irritantes pra fazer que eu só quero que acabe logo mesmo, mas tenho me movimentado pra que essas sejam exceções e não presenças cotidianas: encontrei uma boa equipe de trabalho, escuto e atendo minhas necessidades, tenho projetos pessoais que dão a sensação boa de estar fazendo algo pra si e não só pros outros, etc.
além disso, nesse percurso, achei engraçado perceber que eu estava sendo minha própria chefe tóxica. passei anos no mercado convencional de trabalho reclamando de cláudias e cláudios, mas estava agindo exatamente como eles. era a referência que eu tinha, tudo bem. hoje, minhas referências são outras e eu não me cobro quase nada. no fim do dia, apago toda a minha lista diária no notion e percebo que ela não é tão relevante assim, mas se eu terminei o dia me sentindo bem — com o que eu fiz e o que deixei de fazer também, pois provavelmente significa que eu estava fazendo outra coisa que devia ser mais importante. :)
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desculpa incomodar com conselhos não solicitados.
abraços & até mais,
luana