a última publicação desta newsletter foi no começo do mês. falei dos movimentos que estou fazendo em direção à escrita — ou estava. aquele texto foi o último que escrevi.
recentemente, eu comecei a ler um livro bem famoso do william zinsser, como escrever bem: o clássico manual americano de escrita jornalística e de não-ficcção. no capítulo sobre estilo, o autor diz que a regra fundamental para ser uma boa escritora é ser você mesma. entretanto, ele continua, isso pede da escritora que ela relaxe e tenha confiança, duas coisas “incompatíveis com o seu próprio metabolismo”.
de acordo com zinsser, e eu concordo, a escrita é um exercício de confiança. o problema é que eu perdi a minha completamente.
corta para uma noite de segunda-feira em que estou sentada com minha amiga O., no sofá da sala dela, conversando sobre os meus textos. é ela quem puxa o assunto e meu corpo automaticamente se contrai. eu não estou acostumada a ouvir a opinião das pessoas sobre o que eu escrevo.
todos os textos que coloco no mundo são através dessa newsletter — formato que me traz pouco retorno sobre quem leu, muito menos o que acharam do que escrevi. por isso, quando alguém menciona meus textos, eu sinto uma espécie de vergonha. algumas coisas que escrevo são pessoais demais e eu sei disso. foi justamente o que O. me contou: ela tem a sensação que não deveria ler alguns trechos do que publico, pois parece que está acessando algo muito íntimo.
de fato, ela está. escrever & compartilhar esse tipo de coisa são decisões que tomo conscientemente. “será que é pessoal demais?” e “eu deveria falar isso na terapia, não aqui” são frases que já passaram mil vezes pela minha cabeça. nesses momentos, eu me coloco na posição de leitora. eu adoro ler algo muito pessoal & específico e me identificar com aquilo. traz um sentimento de pertencimento ao mundo que não sinto com tanta frequência. por isso, apesar da insegurança, eu compartilho.
assim, percebo que a falta de confiança na escrita é combatida pelo desejo de compartilhar minhas experiências, na esperança de que alguém, em algum lugar, se identifique e abra um pequeno sorriso na frase certa. esse é o exercício de confiança que zinsser menciona. para isso, entretanto, eu preciso começar.
nos meus movimentos em direção à escrita, o tiro saiu pela culatra. primeiro, passei a ler sobre o tema e, de fato, aprender coisas novas. mas, no lugar de me sentir bem com o aprendizado, comecei a me colocar pra baixo: o que eu estou fazendo publicando textos sem saber nada, nada, nada?
enquanto isso, pratiquei diferentes tipos de escrita em diferentes horários e humores. escrevi muita coisa ruim, tudo bem, normal. só que, de repente, tudo que eu escrevia soava muito ruim aos meus ouvidos. “será que eu algum dia escrevi algo decente?” senti vergonha de tudo que já coloquei no mundo.
mas, olha só, se não é um texto se formando aqui & agora. uma penca de parágrafos que parecem se conectar.
nessas últimas semanas, não finalizei nenhum texto, mas escrevi algumas coisas soltas. hoje, as costuro. acho que escrever é isso mesmo. acho, não. escrever é conhecer ferramentas que te ajudam a chegar lá (qualquer lugar), muito mais do que esperar que a Inspiração esteja à espreita, só aguardando o momento em que você vai abrir uma página em branco.
lembrar disso também é um exercício.
minha vontade quase visceral é de pedir desculpas por falhar na entrega de textos semanais, mas você não é meu chefe e eu tenho que parar de pedir tantas desculpas. a newsletter já faz esse trabalho suficientemente bem.
abraços,
luana
um álbum que eu não paro de ouvir:
o episódio solto de um podcast que gostei muito:
um texto sobre meu drink favorito:
gosto muito das suas reflexões e textos, acessar uma parte mais vulnerável do outro pela escrita é belíssimo.
dia desses visitei pensamentos parecidos com os seus quanto ao meu processo de escrita (e publicação) e entendi que uso esse artifício para costurar muitas coisas que preciso tirar do imaginário e trazer para o real. como ferramenta de cura. e é difícil mesmo.