se você também tem o hábito da leitura, sabe que comprar livros e ler livros são duas atividades completamente diferentes. os japoneses, sabidinhos, percebendo isso, inventaram uma palavra para nomear a lacuna que se forma entre essas duas ações: tsundoku, a famosa pilha de livros não lidos.
eu aprendi a ler com a poesia no jardim de infância, mas foi a ficção que arrebatou meu coração uns anos mais tarde. em meados dos anos 2000, eu batia ponto na microbiblioteca da escola, época em que passei a usar óculos e aparelho, sofrer bullying e ter rinite, características que contribuíram pra estética de leitora que eu estava começando a construir. na adolescência, eu li sagas e best-sellers YA. no começo da vida adulta eu não li, estava muito ocupada tendo uma vida social pela primeira vez. aos vinte e poucos, quando resgatei o hábito, eu só lia não-ficção de autores marxistas. quando decidi explorar um pouco mais, dei de cara uma anarquista que escrevia ficção: ursula k. le guin me lembrou porque eu amava ler. fim.
hoje, baixo mais livros do que compro, pois #crise. mesmo assim, eu não consigo entrar em um sebo sem levar algo — atividade que forma metade da minha pilha de livros não lidos — e entendo a importância de apoiar editoras, especialmente as independentes, e pequenas livrarias. compro o que o posso, leio o que dá.
mensalmente, quero mandar pelo menos uma newsletter sobre livros. essa é a primeira delas e queria começar diferente, por isso segue uma lista de todos os livros físicos que comprei e não li para além da quarta capa.
depois me conta dos livros que você comprou e nunca leu. quero conhecer o tsundoku de todo mundo! hoje vou me despedir logo de cara, mas te convido a ficar até o final (não vai ter bolo). abraços virtuais,
luana
os livros que não li
#1 Sidarta, Hermann Hesse
toda vez que estou no ônibus e vejo alguém lendo, todas as minhas energias são voltadas pra descobrir que livro é aquele. uma vez, identifiquei um cara lendo uma edição linda de sidarta, aí cheguei em casa decidida a lê-lo, já que eu tenho uma cópia que peguei emprestada da minha irmã há anos, só que a edição é tão feia que fiquei até com vergonha de mostrar ela aqui. minha irmã, inclusive, também nunca leu: comprou por impulso quando descobriu que alguém do BTS gostava desse livro.
#2 Orgulho e preconceito, Jane Austen
eu tenho muita vontade de ler orgulho e preconceito, mas o motivo de nunca tê-lo feito é a mesma do tópico anterior: entrei num sebo e comprei essa edição horrorosa por impulso.
#3 Giovanni, James Baldwin
só não li ainda, pois adquiri recentemente: foi minha última compra no sebo junto com Lolita (leitura que não tá indo pra frente, pois preciso vomitar a cada parágrafo).
#4 Donos do Mercado, João Perez e Victor Matioli (Editora Elefante, 2020)
o livro mais antigo da minha atual pilha de não lidos. comprei em 2020, no auge da pandemia, quando produzia conteúdo sobre alimentação na internet. fala sobre o poder que os supermercados possuem, como o conquistaram e o que fazem com ele, tema que trouxe muitas reflexões na época, quando todos os estabelecimentos — incluindo feiras, restaurantes e outros locais que comercializam comida — estavam fechados, com exceção dos supermercados. acho que nunca li, pois desde 2020 tenho me dedicado mais à ficção, mas a vontade permanece. não posso indicar um livro que nunca li (ou posso? qual o objetivo dessa newsletter mesmo?), mas fica a indicação do podcast Prato Cheio, produzido pelos autores do livro.
#5 Revolução das Plantas, Stefano Mancuso (Ubu, 2019) e #6 A planta do mundo, Stefano Mancuso (Ubu, 2021)
o primeiro ganhei num sorteio do instagram! nunca abri. o segundo veio num combo com outro livro, que era o que de fato me interessava. foi mal, stefano mancuso, uma hora eu vou te ler! as edições são lindas, provando que eu deixo, sim, de ler um livro pela capa, mas não só. (:
#7 Rebecca, Daphne Du Maurier
o livro que me perseguiu.
fiquei sabendo desse livro através de uma música da Taylor Swift e fiquei afim de ler. encontrei um exemplar no sebo, sem estar procurando, na parte de livros estrangeiros. tava R$10 e levei. quando fui pegar pra ler, percebi que era uma daquelas edições recontadas para o aprendizado de língua inglesa. tinha sido reescrita usando um vocabulário super pequeno e tinha só 100 páginas (a original tem quase 400). larguei essa edição e fui ler em ebook, mas, na época, queria ficar o mais longe possível de telas e desisti da leitura. certo dia, passando pela praça do centro da minha cidade natal, vi um projeto de doação de livros da biblioteca municipal. fui ver o que tinha lá e achei ela mesma: rebecca. com folhas de verdade, texto integral, em português, de graça. não foi o suficiente pra me dar vontade de começar a leitura.
#8 Dentro da baleia e outros ensaios, George Orwell
comprei um exemplar por impulso (de novo) numa rápida passada no sebo antes de ir visitar meu pai no hospital. ele faleceu no dia seguinte e tenho a sensação que nunca vou conseguir ler esse livro, no máximo doar… ou tacar fogo.
#9 O Capital I, Karl Marx
poderia apostar que o capital é o segundo livro mais comum nas pilhas de livros não lidos ao redor do mundo. o primeiro, tenho certeza, é a bíblia.
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