eu tinha 17 anos quando bebi pela primeira vez. foi no aniversário do amigo de uma amiga; era a festa mais adulta que eu sabia estar frequentando e me sentia mais do que pronta para por um fim no meu histórico de adolescente certinha. o irmão do aniversariante estava fazendo alguns drinks no começo da festa. ele era bartender em um bar famosinho da cidade; um que eu tinha tentado entrar uns meses antes, mas fui barrada na porta por ser menor de idade: a bota peep toe com salto de 8cm, emprestada da minha mãe, não foi suficiente pra me fazer parecer mais velha.
o balcão do salão de festas virou o bar, pra onde me dirigi assim que cheguei. a primeira bebida que pedi chamava-se bin laden: um shot de destilado com pimenta. bebi aos goles, incapaz de fazer o líquido descer de uma vez só pela garganta. virei um shot de tequila, ou dois, e o limão espirrou nos meus olhos. meu paladar ainda infantil encontrou conforto na piña colada, leitosa e frutada, enquanto a jovem que queria irromper do meu peito estava mais do que satisfeita com a quantidade de rum que dividia espaço com os outros ingredientes.
mas foi só recentemente que retornei ao mundo dos drinks: depois da festa que me introduziu ao álcool, passei anos bebendo cerveja e vinho, até me encontrar nos clássicos licorosos. foi numa quarta-feira à noite, depois de três negronis, dois martinis e uma ressaca horrível, que percebi que posso contar sobre os últimos dez anos a partir da perspectiva das bebidas que me acompanharam.
em 2013, fui a uma festa de halloween. o artpop tinha vazado naquele dia e tocou do início ao fim, sem pulos. nunca tinha me sentido tão pertencente a um grupo como naquele momento e, por querer pertencer, eu tentei beber cerveja. não desceu. passei a festa inteira procurando alguém que me conseguisse um copo de jurupinga, mas só encontrei minha amiga S. vestida de avril lavigne.
um ano depois, estava em outra situação com aquelas mesmas pessoas: J. me disse que eu só passaria a beber cerveja quando me tornasse adulta. não lembro quando comecei a gostar de cerveja, assim como não lembro quando me tornei adulta; um dia acordei e apenas me dei conta de que já estava acontecendo. assim, de sommelier de cervejas à base de milho no litrão a “não gosto de pilsen”, passei anos explorando meu paladar cervejeiro; enquanto nos dias mais frios, fui/ainda sou a pessoa do vinho-de-até-trinta-reais. fora isso, é espumante para dias de celebração e mimosas em primeiro de janeiro (com o espumante que alguém esqueceu no fundo da geladeira).
minha imersão total nos drinks licorosos aconteceu quando aceitei que cerveja não me caia bem. tenho refluxo e cansei de terminar a noite soluçando, com a cara no vaso sanitário do banheiro do bar, ou gastando dinheiro em drinks com muito gelo. foi E. quem me apresentou o negroni, numa hamburgueria-bar perto de casa. ele pediu o drink dizendo que adorava; nunca o tinha visto beber aquilo, mas E. tem dessas. eu devo ter pedido uma gin tônica com pepino ou um chopp, mas beberiquei do negroni: ao primeiro toque da língua, ele foi amargo demais, alcoólico demais, presente demais; mas também foi delicadamente doce, cítrico no ponto, perfeitamente cremoso e E. ainda ficou falando do custo-benefício.
o dry martini sempre me brilhou os olhos, mas nunca me pareceu proporcionalmente atrativo ao paladar comparado ao seu apelo estético. quem nunca teve vontade de beber martini assistindo grace & frankie? a primeira vez que tomei um dry martini [foto] estava sentada no balcão de um bar que eu costumava frequentar na faculdade. só de entrar lá, sentir o cheiro daquele estabelecimento subterrâneo sem janelas, já foi nostálgico e, agora, escrevendo esse parágrafo, percebo como é curioso que esse lugar continue formando memórias. minha amiga S. (aquela que encontrei vestida de avril lavigne) registrou o momento que não foi tão glamoroso quanto achei que seria, mas onde eu entendi tudo: amargo, licoroso, alcoólico, chique, não enjoa e ainda vem com um snack.
minha empreitada mais recente no mundo dos drinks é pedir uma dose de martini bianco com gelo e uma cerejinha. esse é pros dias de luta (dry martini só nos dias de glória), pois a dose custa R$8. dois seguidos não rola, é doce demais, mas dá pra pedir a dose do seco com a azeitoninha. assim, no diminutivo mesmo.
depois desse textão, espero o convite pra tomar um drink. abraços virtuais,
luana
Adorei! Me lembrou da caipirinha de limão capeta que eu tomei nesse fim de semana e que merece um texto só pra ela, também envolve muitas questões