#1 esse texto vai ter que sair hoje se eu quiser que ele chegue à sua caixa de e-mail na noite de terça-feira. por isso, peço desculpas pelos eventuais erros ortográficos – eu geralmente peco em gênero e grau, mas esse primeiro eu já estou acostumada. estou com pouco tempo para a escrita, mas estou gostando desse ritmo; em sentar para escrever e ver o que sai. percebi que é uma escrita consciente e, muitas vezes, visual.
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#2 como uma grande entusiasta de listas, eu fiquei bastante triste quando percebi que nem tudo pode ser simplesmente categorizado, selecionado, priorizado, resolvido e marcado como concluído. e, nos últimos meses, todas as coisas que eu não consigo listar estavam me esmagando. me sentia perdida e sufocada numa enorme miscelânea de coisas da qual eu fazia parte, mas onde não conseguia mais identificar quem eu era, quais eram meus desejos e necessidades, onde começava e terminava o meu espaço. sobrecarregada, eu saí da Miscelânea.
minha prioridade era conseguir ter uma rotina por pelo menos uma semana, assim eu teria uma referência prática para poder aplicar quando voltasse à Miscelânea. escolhi um apartamento com rotina estrita e relações simples. depois de alguns dias, percebi que lá tudo era Quadrado. o quarto onde eu dormia, o banheiro onde fiz terapia, as janelas por onde eu via o céu; a tv em que assisti Heartstopper, a tela do computador, a mesa de trabalho, o apoiador de copo; meus horários do banho, do passeio, da comida; as listas de tarefas e de compras, os corredores do supermercado, o torrone, o tofu. & eu simplesmente adorei.
eu sempre pensei no Quadrado como um espaço conservador e atrasado. eu não queria ser quadrada, queria ser orgânica, sem arestas. eu gosto do que a Miscelânea me oferece — espaços compartilhados, surpresas cotidianas, relações-cebola, redes de apoio, conflitos, conversas infinitas, sentir tudo intensamente, etc —, mas hoje busco meu Quadrado em meio a tudo isso; é o espaço onde consigo me encontrar.
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#3 tem uma qualidade da solitude, pra mim, que é a não-interrupção. além de não precisar justificar minhas escolhas pra ninguém: eu vou beber 946ml de cerveja sozinha, sim; eu vou escrever com os dedos engordurados de batatinha no meu teclado em que a letra “i” está falhando, sim; eu vou ficar duas horas assistindo vídeos de alguma atriz pela qual eu estou obcecada, sim. o fato de eu me sentir incomodada em fazer essas coisas na presença de alguém é algo que preciso trabalhar, mas, por isso mesmo, que delícia viver a prefiguração de uma situação que eu ainda não resolvi.
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#4 estava no ônibus, voltando pra casa depois uma ótima tarde com minha amiga S. abri o spotify e não sabia o que ouvir. encontrei ela: a música que eu escutava durante a pandemia quando estava longe do meu pai e com o sofrimento entalado no peito. será? não queria chorar no ônibus, cheio de gente. meu dedo flutuava sobre o botão verde. apertei o play. fechei os olhos. a mulher na minha frente deve ter estranhado a menina pressionando os olhos tão fortemente por 3min25s. mas eu não chorei. eu—
sorri? ainda não entendo o que senti. tinha acabado de beber uma cerveja. a temperatura estava perfeita aos 18°C. estava usando uma blusa que foi dele, feliz de estar sendo abraçada por aquelas tramas de algodão tão antigas. a música me fez sentir um aperto leve no coração, mas um sentimento bom também. senti saudade.
no dia em que escrevo este texto, fazem 445 dias que ele morreu. eu já fiz dois aniversários. menstruei catorze vezes. removi quatro cáries. reprovei mais do que gostaria na prova do detran. o luto mudou e eu tinha medo de dizer isso. de certa maneira, eu queria chorar ouvindo aquela música. mas não é a dor pela sua morte que valida o que ele foi pra mim. é tudo que eu sinto.
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#5 ao lado da lareira, a madeira estala. eu amo minha gata.
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(espero sair do bloqueio criativo em breve)
desculpa incomodar e até a próxima!
luana