hoje eu estou profundamente triste, não sei bem porquê. eu consigo listar as várias coisas que me deixam pra baixo, mas o fator que traz o advérbio à oração – profundamente triste – ainda é desconhecido.
pode ser a tpm, mas não sei, essa tristeza que sinto não vem do útero – e se você é uma pessoa que menstrua, talvez entenda o que eu estou querendo dizer. eu não tomei meu remédio hoje e não lembro se tomei ontem, confesso. pode ser isso. hoje eu também senti muita falta do meu pai e quando isso vem é como uma pedra pesada amarrada ao meu pé que me puxa pro fundo.
isso acontece de vez em quando. sabe, adentrar as profundezas do meus sentimentos mais… ruins? a verdade é que eu quase gosto de ficar triste, mas arrisco dizer que a palavra que busco não é bem essa – e acho que isso vale um texto inteiro só sobre isso. entretanto, um dos motivos que me fez buscar ajuda em medicamentos psiquiátricos foi, sim, perceber que esses momentos de tristeza estavam sendo muito frequentes, muito longos e muito profundos que atrapalhavam o funcionamento da minha vida.
quando comecei a tomar esse último remédio, no segundo semestre do ano passado, depois do décimo dia a coisa começou a fazer efeito. eu fiquei eufórica! a vida era bela demais pra ser real e eu me perguntava porque tinha demorado tanto pra aceitar a companhia do oxalato de escitalopram. eu não chorava uma gota, ficava mais na vertical que na horizontal, eu até me vi com um tempo ócio que antes eram ocupados por crises depressivas.
uma hora passou. hoje, estou mais estável. mas eu passei a semana toda pra baixo e eu queria tentar escrever sobre isso, pois é o que está acontecendo comigo esses últimos dias, mas não sei se consigo. não sei se tenho forças. não sei se consigo fazê-lo sem expor ninguém e acho que é minha responsabilidade conversar com as pessoas sobre esses sentimentos – pra além da minha analista, pois existe coisa mais deprimente do que pagar pra falar? – antes de colocar isso aqui, apesar de ser muito mais fácil pra mim escrever e publicar pra cem pessoas lerem, do que sentar na frente de uma pessoa, olhar nos olhos dela e falar o que eu sinto & quais são as minhas necessidades. por favor, não me diga pra fazer biodanza.
o que eu quero com esse texto? não sei. mas eu aprendi com a minha mãe a (tentar) olhar o lado positivo das coisas, mas sem ficar numa positividade tóxica do caralho. é sobre as pequenas coisas, acho. por isso, aqui vão algumas coisas que tem feito minha vida um tico mais feliz, nessa semana nadando em águas que pareciam calmas, mas são fundas o suficiente pra eu quase não enxergar a luz do sol na superfície lá em cima.
1. minha vó agora tem um celular, depois de meses com o telefone cortado e dependendo de outras pessoas para se comunicar com a família.
2. a mulher da casa abandonada – o podcast, não a margarida bonetti – e todo o bafafá que rolou em torno disso. a história, não sei se verídica, que a luísa mell invadiu a casa por causa de um gato que era um gato de energia elétrica me extraiu boas risadas. mas ainda acho mal o jornalista branco lucrar em cima dessa história. feliz, pelo menos, que a ex-empregada vive, aparentemente, bem. e, no dia em que escrevo isso, aparentemente rolou desdobramentos na história.
3. esse trecho de notas a um filho nativo de james baldwin:
Adoro discutir com pessoas que não discordam de mim de modo muito radical, e adoro rir. Não gosto da boemia nem de gente boêmia; não gosto de pessoas cuja principal objetivo na vida é o prazer e não gosto e pessoas que são muito sérias a respeito de qualquer coisa.
4. o livro if cats disappeared from the world de genki kawamura
5. a bibateca “um clube de leituras de bibas sapas trans queers e outres tutti-fruttis”, que nem começou direito, mas já me faz muito feliz, pois poucas coisas me fazem tão bem do que me reunir com as lgbts.
6. meu amigo P. e nosso sentimento compartilhado pela demi lovato: alívio cômico.
7. minha mãe ter encontrado todos os registros físicos de que eu já fui fã de rbd: uma caixa com pôsteres, cds, dvds e tudo mais. caixa que vai ter um texto só pra ela quando eu visitar minha mãe e tocar tudo isso com as minhas mãos, que hoje tem 27 anos e algumas experiências a mais do que as que folheavam as revistas teen de 2005.
8. minha gata, plene, que está ronronando no meu colo enquanto escrevo esse tópico.
9. esse poema do pedro cassel, de seu livro kiwi, o primeiro livro de poesia que comprei:
bullet journal quantas horas-sono no débito quantos dias-zumbi na conta pra conseguir escrever um verso que outro com cara de xerocado quantas horas-filme na lista quantas noites-livro na cama pra nunca morrer a impressão de que falta uma peça chave fazer mapas aéreos de cabeça de tanto trotar por terra desenhar retratos falados de rostos que apalpei no escuro murro em ponta de faca style mula de antolho style batendo com o gato morto na cabeça até que ele mie style na esperança que alguém sinta um sopro de vida e pense por um segundo porra valeu a pena dar chance pra esse negócio
10. sair com minha amiga S. e lembrar como é bom ter amigos que existem mesmo longe da gente. me faz lembrar que amar não é sobre estar perto sempre, mas sempre que dá é bom demais.
11. o novo álbum da beabadoobee, mas essa música em especial:
you need to drink water, remember to pray
eat so you're stronger and live for the day
speak to your brother, check he's ok
need to get out more, don't smoke all day
i know you're sad 'cause someone died
but i'm not gonna sit inside and do nothing
12. essa música da maggie rogers.
13. chorar no meio-fio de uma calçada, com um novo amigo, depois de beber quatro chopes. me fez sentir jovem “de novo”.
vou terminar no 13 que é meu número da sorte e a sequência de dígitos de vou apertar nas urnas eletrônicas em outubro.
desculpa incomodar e até semana que vem – com assuntos mais interessantes, espero.
luana