este é um texto em colaboração com uma grande amiga que, infelizmente, também é atravessada pelo luto desde o ano passado. a convidei para escrever sobre isso! aproveito pra dizer que se você quiser colaborar com a minha newsletter, entre em contato. as portas estão abertas. 🚪
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Hoje é 6 de julho de 2022 e ontem fez 1 ano que meu pai morreu. A Luana me convidou pra falar um pouco sobre a relação da música com o meu luto e eu gostei muito do convite, porque música e escrita são justamente duas das minhas formas de expressão favoritas, que me ajudam muito quando quero colocar sentimentos para fora ou organizar ideias.
Sempre tive uma relação muito forte com a música, então naturalmente ela acabou tendo um papel importante no meu processo de lidar com a perda.
Algum tempo depois que meu pai morreu, ouvi uma música no stories de um amigo que acabou me marcando muito e acho que foi a primeira que associei com essa fase da minha vida.
Nela, a letra diz:
Oh there's a field, meet me there You know I'm on my way, please meet me there
Esse trecho ficou gravado comigo e eu acabei associando ela com uma “imagem” na minha cabeça que passei a visualizar sempre que a ouvia.
Nessa imagem haviam apenas três coisas: um campo com uma mini colina (meio campo do teletubbies kk), meu pai, na beira, apreciando a vista, de costas para mim – e eu chegando com um abraço para me juntar a ele.
Essa coisa do “reencontro” também aparece em outra música que eu ouvi na época. E adivinha, ela começa com a mesma frase:
“meet me there”
Eu não faço a mínima ideia de onde seja esse “there”, mas pensar que um dia eu me encontrarei com ele, em qualquer lugar que seja – às vezes – é o suficiente.
As músicas do Ben Howard são lindas e melancólicas por natureza e já me acompanham há um tempo, principalmente naqueles dias que eu também estou nesse mood. Então é óbvio que ia ter uma música dele pra embalar o momento mais triste da minha vida, risos.
Eu amo como ela começa com o que parece ser um barulho calmo de chuva e vai aumentando de intensidade conforme o tempo. Eu diria que ela é uma ótima música de ninar, especialmente quando você está cansado de tanto chorar e sentir.
Dessa forma, eu fui colecionando músicas. Assim como a Luana, quando estou triste, às vezes, quero realmente senti-la e vou atrás de coisas que intensifiquem esse sentimento.
Passei a usar elas pra quando eu queria colocar pra fora o que estava sentindo – a angústia, a dor, a saudade, a tristeza ou qualquer sentimento que seja. Fazer isso me trazia alívio. Era como tirar um peso de dentro de mim. Elas iam embora junto com as lágrimas. Pelo menos por um tempo.
Hoje, um ano depois, eu sinto que minha relação com o luto mudou, os sentimentos são diferentes. A saudade já não é mais tão dolorosa e intensa quanto antes, o foco já não é mais a “falta”, mas sim uma memória bonita de quem meu pai foi – ele é uma parte de mim e tento honrar quem ele foi e o que ele fez por mim.
Bom, tem pelo menos mais 10 músicas na minha playlist, e cada uma tem um significado próprio. Uma curadoria selecionada à dedo e com o coração. Não há como compartilhar todas aqui porque tem coisas que são só nossas e que só fazem sentido pra gente.
Essa é uma das belezas do poder que a música tem. Cada pessoa se apropria dela de uma forma diferente. Essas músicas são minhas, assim como esse luto é meu.
Espero que você encontre sua forma de cuidar do seu luto, assim como eu sigo tentando cuidar do meu.
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Pra jogar:
Passo pra frente a palavra do Spiritfarer, jogo LINDO que também me ajudou a ressignificar e processar o luto. Nele a gente assume o papel da Stella, a nova barqueira dos espíritos, que deve navegar pelo mar para encontrar as almas, ajudá-las com seus últimos desejos até por fim levá-las ao Portal Eternal, para a sua passagem final. A trilha sonora mora no meu coração também.
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Obrigada, Lu, pelo convite e a honra de aparecer por aqui.
Obrigada por me ouvir-ler & desculpa incomodar. ❤
Sandrine (@sandrinemertins)