eu amo e-mail. gosto da estética da palavra, aquele hífen antes do meio. quando penso em como poderíamos traduzi-la, numa tentativa de diminuir as palavras em inglês do vocabulário, só consigo pensar nessa música do celso portiolli.
o formato de correio eletrônico foi um dos primeiros contatos que tive com a internet. 2006, casa da minha vizinha: ela, sentada na cadeira em frente ao computador, eu sobre um banquinho ao lado. abrimos o yahoo! no internet explorer. claramente, eu segui a clássica tendência do endereço de e-mail constrangedor de quem foi pré-adolescente no começo do milênio: lu_lokete @yahoo. com. br. a senha era o telefone da minha casa e eu usei ela até entrar na faculdade quando fui obrigada a criar uma senha com letras maiúsculas, minúsculas e símbolos numéricos.
hoje, eu tenho uma tatuagem no braço escrito internet dentro de um coração, sou paga pra criar imagens que veiculam nas redes sociais dos outros e estou cansada. abrir meu e-mail é uma das poucas coisas que faço na internet que não me gera ansiedade — com exceção dos e-mails que recebo da ABIH-SC, a associação brasileira da indústria de hotéis de santa catarina, que me inscreveu na newsletter deles depois de eu ir numa palestra, sobre megálitos e pinturas rupestres em florianópolis, que estava na programação de um evento de inovações em hotelaria e turismo.
por ser eu mesma assinante de newsletters, eu recebo por e-mail conteúdos que escolhi consumir, com curadoria, com links externos, sem limite de caracteres, sem grandes dificuldades com algoritmos que só entregam rostos de pessoas brancas ou corpos dançantes, sem desconhecidos brigando, sem pressão pra visualizar e responder mas se quiser pode. e dá até pra monetizar sem ser famoso, basta ter uma rede de pessoas que te apoiam online, que é, bom, diferente do que a gente tá acostumado a chamar de rede social.
em 2018, eu criei meu primeiro projeto de newletter: a não esquece a ecobag. gente brasil afora ainda tem os adesivos que fiz na época. por causa desses e-mails, que eu enviava semanalmente, consegui até um trampo. em 2021 voltei a enviar e-mails através da cantina do duds. eles eram a recompensa de quem apoiava financeiramente nossa produção de conteúdo no instagram. a pandemia nos levou a encerrar a cantina, mas, de qualquer maneira, é sobre esse tipo de rede que eu estou falando! é por causa delas, de você que tá lendo esse texto, que eu tenho vontade de disseminar ideias na internet.
assim, a desculpa incomodar é um espaço pra eu escrever e publicar textos de maneira independente. uma tentativa de trazer sentido pra fragmentos de ideias pós-análise. descrevo o projeto como um lugar para reflexões urbano-florestais, pois me vejo nesse meio. eu sou o hífen.
aqui pretendo abordar temas que latejam na minha cabeça, como colapso climático e alternativas civilizatórias, agroecologia, gênero, não-monogamia, livros e outras formas de contar histórias, comes & bebes com uma pitada de política, e minhas experiências com a ansiedade e o luto.
queria finalizar essa primeira edição com um poema da nathaíne marcele, amiga que conheci na balada, mas de quem me aproximei sob um pé de jaca na beira da praia. ela me mostrou esse texto depois de eu contar que tava meio cansada de só estar em meio a natureza; eu queria sentar num meio-fio fedido no centro da cidade, tomar uma cachaça, sentir o cheiro de um gudang. as reflexões urbano-florestais surgiram aí.
aqui me despeço. volto com mais palavras em breve! um abraço pra você e desculpa incomodar.
luana
Essa calmaria e a rotina são tudo que eu mais quero Mas também sinto saudade do que me destrói A rua, a gente, a cerveja, o ruído O corpo perdido Pede sono e abrigo O que eu vim buscar aqui? Eu sei, é divertido Mas não mais que o meu jardim! A comida do pedido Não tem o cheiro do alecrim Uma manhã perdida Que não vai raiar pra mim Combustível emitido No vai e vem do distrair É que eu sou filha da babilônia Erguida na insônia Sem sonhos e com fim É que eu sou filha da babilônia Que matou do rio à onça Destruição que habita em mim É que eu sou filha da babilônia Degradação fora do ritmo Do prazer de estopim É que eu sou filha da babilônia Tentando ser filha de gaia — nathaíne marcele